Há quase um século, os moradores do município de Ocara, a 97 quilômetros de Fortaleza, preferem não chorar no dia de finados. A festa das almas, que acontece entre os dias 1º e 2 de novembro, começa com o terço das almas, seguido por uma missa no cemitério da cidade, e é encerrada no fim da noite com uma grande festa de forró na praça principal. "É o evento mais esperado do ano. É uma parte cultural de todos os moradores", afirmou ao G1 a professora Jhely Lopes, 23 anos. Moradores comentaram que é costume ir ao cemitério à noite visitar os que já partiram dessa para uma melhor.
Cemitério sem muro
O prefeito de Ocara, Leonildo Peixoto (PSD) explicou como começou a festa das almas, na década de 1920. De acordo com ele, o cemitério da cidade não era cercado e, segundo o prefeito, há uma tradição católica apostólica romana de que cemitério tem de ter muro. "Uma liderança religiosa da época, o Pai Dodó, notou que na véspera de finados havia uma aglomeração de gente, a pé ou a cavalo, com velas. E ele teve a ideia de fazer um leilão para arrecadar dinheiro para construir o muro".
O leilão, relatou o Peixoto, acabou virando tradição e se transformando em festa todo dia 1º de novembro, dentro da mística sertaneja e católica. Segundo o prefeito, são esperados todos os anos cerca de 50 mil pessoas para os festejos. Por volta das 18 horas, as pessoas se reunem em frente à igreja matriz para rezar o terço das almas e seguem até o cemitério. "No pátio do cemitério, o padre reza uma missa. E o comércio do lado de fora também fica efervescente", afirmou.
Após a missa, na praça ocorrem as apresentações culturais, inclusive de escolas, feira de artesanato e comidas típicas. "Tem reisado, dança, cordel", disse o prefeito. A partir das 22h, o forró começa e vai até o sol raiar na praça. "Este ano são as bandas Solteirões do Forró, Forró do Bom, Lagosta Bronzeada e Forró do Gordim", explicou Peixoto.
Para o prefeito, que mora há 11 anos no município, a festa das almas celebra a vida e representa um encontro dos moradores de Ocara com os que partiram. E ainda estão vivos. "Não é que se tenha medo da morte. Se comemora por estar vivo", disse.
Atualmente, o cemitério da cidade, além de ter muro, recebe pintura, limpeza e iluminação todos os anos para receber os visitantes. "Tem o lado profano, mas tem o lado sagrado. O cemitério de Ocara hoje (1º) passa a noite lotado. As pessoas frequentam o cemitério à noite, para fazer orações. Foi algo incorporado pela população", garantiu.
Custo da festa
A realização da festa, segundo Leonildo Peixoto é da Prefeitura, mas com recursos do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), da Caixa Econômica Federal (CEF), do Governo do Estado e do tesouro municipal. O custo total da festa este ano, explicou o prefeito, foi de R$ 100 mil. Ele explica que, além do policiamento local, há um reforço da Polícia Militar e mais 120 seguranças. Outra medida de segurança, acrescentou, é a proibição de venda de bebidas em garrafas de vidro.
Fonte: G1.
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